CAU decreta luto de três dias pelo falecimento do arquiteto e urbanista Miguel Pereira
15 de maio de 2014 |
Faleceu na manhã de quinta-feira (15/05), o arquiteto Miguel Pereira, conselheiro federal do CAU/BR, representando o Estado de São Paulo, ex-presidente (por três mandatos) do IAB nacional, ex-presidente do IAB do Rio Grande do Sul e ex-vice-presidente da UIA. De acordo com o Ato Declaratório Nº 04 do CAU/BR, publicado em (15/05/2014), o CAU/PB decretou luto de três dias pelo falecimento do Arquiteto e Cons. Federal Miguel Pereira.
“Conheci o colega e mestre Miguel Pereira a partir de minha atuação no Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, já há alguns anos. Exímio orador e autor de vários livros, suas reflexões sobre a prática e a política profissional contribuíram para a organização da Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Desde a importante atuação que teve junto ao ensino, mas também quando ocupou a Presidência do IAB e o Conselho Superior do IAB, onde militou sempre, e mais recentemente ainda no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil – CAU/BR”, comentou a presidente do CAU/PB, Cristina Evelise.
A presidente do CAU/PB também destacou a forma de atuação do arquiteto e urbanista. “A firmeza de suas convicções e a emoção com que sempre se dirigia a seus pares e à sociedade, fosse em discursos ou textos marcantes, sempre me impressionaram e demonstram o quanto levou a sério o nosso ofício. E sem dúvida, essa maneira de ser em tudo o que fazia, nos beneficiou significativamente ao elevar em muito a Arquitetura e Urbanismo brasileiros, inclusive por essa mesma postura incansável e crítica em instâncias fora do nosso país, em favor do bem comum”, finalizou.
Miguel Pereira teve uma parada cardíaca em sua pousada na região de Florianópolis, onde buscava recuperação depois de longo tempo internado. Em 25 de novembro de 2013, o arquiteto submeteu-se a uma cirurgia emergencial em consequência de um acidente vascular cerebral (AVC). Segundo familiares, o arquiteto deixou um pedido: que sobre seu caixão seja estendida uma faixa amarela com a palavra Arquitetura. Não queria ninguém triste.
Há exatamente um ano, em maio de 2013, o arquiteto reuniu arquitetos, amigos e alguns de seus colegas do CAU para lançar o livro “Arquitetando a Esperança”, na Livraria da Vila, em São Paulo.
Dividido em seis capítulos que contam a trajetória profissional do arquiteto, o livro, editado pela Pini, traz histórias desde 1957 quando Miguel se formou na Universidade até os dias atuais e sua forte luta pela política profissional. Assim, a publicação retrata a formação, a prática profissional, os principais projetos, o exercício da docência, a preocupação com a pesquisa e a política profissional – questão que preenche o discurso do arquiteto.
“Montei-me em uma prática profissional com as duas faces da moeda, na prancheta e no discurso da arquitetura, e por isso eu tenho uma facilidade de frequentar a academia e me tornei um pesquisador, escrevi livros e não podia deixar de escrever aquilo que foi sempre uma provocação e um entusiasmo: a política profissional”, afirmou Miguel Pereira.
Dos projetos apresentados no livro, figuram residências, edifícios institucionais e algumas propostas para concursos de arquitetura. Além disso, o autor comenta sobre as parcerias de trabalho e sobre os escritórios em que trabalhou.
Para explicar um pouco mais sobre o estilo de fácil leitura empregado no livro, que é quase uma biografia do autor, Miguel comenta: “eu não queria fazer um livro de compêndio, eu queria fazer um livro de projetos com pouco texto e indicando a minha geografia”.
ALFORRIA E MAIORIDADE DA CATEGORIA – Em 16 de fevereiro de 2011, escreveu a seguinte carta para a jornalista Éride Moura, da revista Projeto, em resposta a uma pergunta sobre o significado da criação do CAU. Eis a íntegra:
“Prezada Éride
Perdoe-me pela demora . Essa falta de pressa deve-se ao merecido repouso dos guerreiros . Uma jornada, assim, de meio século cansa qualquer maquis da arquitetura . Como sobrevivente, nessa longa batalha, já temia não poder festejar essa grande vitória .
A partir de 31/12/2010, tudo mudou na vida dos arquitetos brasileiros.
A auto-estima e o fragor do patrimônio moral , acumulados ao longo dessa extenuante batalha, são os responsáveis pela ALFORRIA e a MAIORIDADE de uma profissão, nascida bastarda, no interior do Sistema CREAs/CONFEA, decretado por Getúlio Vargas, em 1933 . Até então, sempre fomos uma profissão minoritária, humilhada e ofendida . Agora, temos o respaldo legal, promulgado pelo Presidente LULA , para podermos discutir e decidir sobre a nossa prática profissional, para podermos discutir e decidir sobre nossa formação profissional. Construiremos o nosso Código de Ética. Construiremos o nosso Código de Responsabilidade Técnica. Queremos ser uma profissão obediente aos preceitos do Código Civil Brasileiro e do Código de Defesa do Consumidor . Queremos ser uma profissão responsável perante a Nação Brasileira.
Seremos uma profissão protegida, prestigiada e dignificada. Não haverá perdas. Os ganhos serão cotidianos e permanentes.
O processo de transição do Sistema CREAs/CONFEA para o CAU deverá acontecer pacificamente. A batalha já está ganha. Nossos experts saberão equacionar as estratégias adequadas. Não haverá dificuldades de recursos que possam ser diferentes daquelas que o próprio Sistema CREAs/CONFEA teve, quando de sua implantação.
Quanto ao futuro próximo, e aquele distante, penso que o CBA – Colégio Brasileiro de Arquitetos – deva continuar desempenhando um papel fundamental de convivência entre as Entidades Nacionais de Arquitetos – ABAP/ABEA/AsBEA/FNA/IAB. Será a tribuna adequada no trato dos problemas comuns de nossa profissão. Explorada adequadamente sua potencialidade, poderá vir a ser a grande expressão cultural e política dos arquitetos brasileiros.
Penso , finalmente, que o Presidente LULA deva ser o grande homenageado pelo CBA, o Colégio das entidades profissionais dos arquitetos .
Miguel Pereira”
Leia:
Dissertação de Larissa Garcia Campagner (pós-FAU/USP) sobre a obra do arquiteto