Projetos preservam características do imóvel tombado na Casa Cor Paraíba
4 de outubro de 2016 |
A Casa Cor Paraíba, mostra de arquitetura, decoração, design e paisagismo, que comemora 30 anos em 2016 depois de já ter sido realizada em 20 outras cidades brasileiras e com cinco edições internacionais, chegou ao nosso Estado realizada em um imóvel, marco da arquitetura modernista dos anos 1950, tombado por completo em 2010, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP), por seu conjunto de valores imensuráveis na cultura, arquitetura e paisagismo.
Segundo César Revorêdo, franqueado do evento, muitas características do imóvel foram preservadas, como o piso de retalhos de mármore, o muro lateral e a área onde estão localizados os banheiros públicos. “Aqui temos uma construção com elementos muitos significativos. No living Borsoi temos o painel de mármore num trabalho excepcional e os brisoleils, de madeira de lei. Destaco também os cobogós originais, que reaparecem na Fit Kitchen e nos Lavabos Públicos. No jardim, temos o lago com as plantas e as pedras originais, como o jasmim manga, que foi plantado pelo próprio Burle Marx”, contou o organizador do evento.
“A casa de Cassiano Ribeiro Coutinho tem um valor excepcional pra mim, porque na época das tratativas e do processo de tombamento, eu representava o nosso antigo conselho, o CREA-PB, no COMPEC, órgão deliberativo do IPHAEP, e participei como relator desse processo. Foram muitas tentativas de se fazer com que a casa pertencesse a um conjunto de intervenções que estavam sendo propostas, inclusive, com compensação de área e de índices urbanísticos, para que fosse preservado o bem maior. Lembro da presença de Borsoi aqui, bem como as várias tratativas pra ver aquele patrimônio sendo usado, de forma efetiva, pela cidade de João Pessoa. Ver o sucesso da Casa Cor, nesse imóvel é gratificante. Perceber o respeito às pré-existências enaltecido pela sensibilidade de arquitetos e urbanistas em preservar a memória ao valorizar elementos tão marcantes nas concepções e no detalhamento dos mestres Borsoi e Burle Marx, foi uma feliz surpresa”, destacou o presidente do CAU/PB, Cristiano Rolim.
Antes da utilização do local pela Casa Cor, foi realizado pelo IPHAEP um levantamento de tudo que existia no imóvel tombado. “Quando assumimos tiramos muito entulho e deixamos a casa pronta para iniciar a intervenção dos profissionais. Após o evento, tudo será retirado e a casa será devolvida no estado em que se encontrava. Na maioria dos ambientes utilizamos a técnica de envelopamento, ou seja, os pisos originais foram cobertos por lona e argamassa e depois tudo será retirado e devolvido ao seu estado natural”, explicou César Revorêdo.
O CAU/PB destaca que as divisórias de ambientes e algumas paredes também serão retiradas na época do desmonte da mostra de decoração.
Dentre todos, destacamos elementos que pertenciam à concepção original do imóvel tombado, construído pela família Ribeiro Coutinho. São eles: os brisoleils, no Living Borsoi, projetado pelo arquiteto e urbanista Renato Teles; os cobogós, que aparecem no Espaço Renault, projetado pela arquiteta e urbanista Dorita Santiago, no Lavabo Público, projetado pelas arquitetas Lívia Rocha e Nádia Pedrosa e na Fit Kitchen, projetada pela arquiteta e urbanista Sarah Cavalcanti e pela Design Dauanne Arruda, além do espelho d’ água, do Jardim Burle Marx, elaborado pelas arquitetas e urbanistas Patrícia Lago e Heignne Jardim.
Ambiente 1 – Living Borsoi – Projeto do arquiteto e urbanista Renato Teles.
Preservou: Mármore fosco bisotado no painel da sala e brisoleils de madeira.
O espaço foi pensado para expressar a admiração pelos traços modernistas do arquiteto criador da casa, Acácio Gil Borsoi, resgatando e preservando aspectos originais do ambiente, como os brises e seu acabamento em madeira e parte do revestimento do painel da antiga sala, em mármore bisotado. As escolhas atestam a eficácia do conforto do conjunto arquitetônico. O living conta ainda com obras originais de Roberto Burle Marx, propondo um diálogo poético entre passado e presente.
“Este projeto começou com o encantamento que tenho pela preservação e conservação do patrimônio. Esse ambiente é um resumo do que é a casa, com suas características modernistas. Os brisoleils, principal característica preservada, são responsáveis pela ventilação da casa inteira. Os mármores do painel foram trazidos da Itália, feitos à mão, há mais de 50 anos atrás. Enfim, o projeto quis trazer à tona a história dessa casa tão especial”, destacou o arquiteto e urbanista Renato Teles, autor do projeto.
Ambiente 2 – Fit Kitchen – Projeto da arquiteta e urbanista Sarah Cavalcanti e da design Dauanne Arruda.
Preservou: Cobogós azuis.
Um espaço inovador e aconchegante aliado a produtos sustentáveis e alimentação saudável. Cheio de personalidade, o ambiente tem um estilo rústico do campo, presente do revestimento, cordas de sisal nos corrimãos e palets do teto, além de preservar os cobogós azuis já existentes na edificação.
“Ficamos impressionadas com o estado de preservação dos cobogós. Bastou uma boa lavagem que o brilho original reapareceu. Como pensamos em integrar a horta com o ambiente e pelo bom estado de preservação, optamos por usar os cobogós, que se destacam no projeto”, contou Sarah Cavalcanti.
Ambiente 3 – Jardim Burle Marx – Projeto das arquitetas e urbanistas Patrícia Lago e Heignne Jardim.
Preservou: Lago e espécies do projeto original de Burle Marx.
O projeto proposto buscou preservar e valorizar o traço do maior paisagista do século XX, Roberto Burle Marx, compatibilizado com novos elementos na arquitetura da paisagem, como áreas de relaxamento. A vegetação tropical adequada à região, aliada a traços arquitetônicos contemporâneos, trouxe brasilidade e sofisticação ao projeto. Um espaço intimista, promovido pela utilização de uma paleta de cores sóbrias, iluminação cênica e jardins verticais, favorece o conforto e propõe um novo partido ao espaço, marcado por um grande espelho d’água, onde constam obras de arte, cascatas e empuxos.
“Tínhamos uma obrigação dupla de preservar ao máximo o jardim, pois além do bem ser tombado, o projeto levava a assinatura do mestre Burle Marx. Ainda existiam na casa, além das árvores de grande porte, como as mangueiras, o cajueiro e o jasmim manga, arbustivas como o filodendro costela de adão e o filodentro da amazônia. Nossa proposta foi preservar as espécies e o lago, mas também, numa forma mais contemporânea, agregar móveis para o convívio, pois o jardim original era apenas contemplativo”, contou Patrícia Lago.
O evento continua aberto á visitação até o dia 16 de outubro, de terça à domingo, das 16h às 22h. Os ingressos podem ser adquiridos no local ou no site do evento: http://casa.abril.com.br/casa-cor/mostras/paraiba
Texto excelente, com palavras de Cristiano Rolim, merecedor à grande divulgação . Também muito de alegra lembrar que foi, enquanto Diretor Presidente do Iphaep, quando a bela casa que abriga a CasaCor e também trabalho da minha filha, Sarah Cavalcanti, nossa gestão que tombou essa casa, caso contrário haveria um espigão no seu lugar. Sofri muitas pressões , mas estão aí os bons resultados.