Jornal Contraponto destaca: “João Pessoa faz 431 anos com seu patrimônio histórico em ruínas”
4 de agosto de 2016 |
O jornal Contraponto, em sua edição de 05 a 11 de agosto, já em circulação na cidade de João Pessoa, destaca em matéria publicada na sessão Geral, a situação atual do patrimônio histórico da cidade de João Pessoa durante as comemorações dos seus 431 anos. Veja abaixo a matéria na íntegra:
João Pessoa faz 431 anos com seu patrimônio histórico em ruínas
João Pessoa é uma velhinha de 431 anos que está envelhecendo mal. Tem problemas sérios de locomoção e saúde. Sua memória e belezas naturais estão em ruínas. E sua juventude está assassinando e sendo assassinada nas periferias.
Somos uma cidade ainda de porte mediano que apresenta os piores sintomas de uma grande metrópole brasileira.
Nos últimos anos, a capital paraibana ficou pequena para tanto carro na rua. Engarrafamentos tornaram-se habituais. O transporte público piorou, hoje está sucateado e custa caro. E são pouquíssimas as ciclovias e calçadas adequadas e acessíveis. Para piorar, o poder público tem tratado o problema da mobilidade urbana apenas como um problema de tráfego de veículos.
Assim, as principais avenidas da cidade foram alargadas pela prefeitura e o estado vem construindo viadutos para resolver os mais graves gargalos de trânsito da capital. No entanto, como se observa em outras cidades, esse tipo de obra é paliativa. Porque a tendência ainda é termos, a cada ano, mais carros circulando nas ruas.
Já se está cansado de saber que a melhor solução para o problema é o maior investimento em transporte público e em ciclovias. Mas, o poder público municipal nem mesmo elaborou o plano de mobilidade urbana da cidade, que deveria ser embasado num estudo sobre as necessidades de locomoção dos pessoenses.
Sem esse plano, hoje, a prefeitura de João Pessoa está impedida de receber recursos do Governo Federal para investir em projetos de mobilidade urbana e atira no escuro quando faz qualquer intervenção no trânsito da cidade. “Sem esse planejamento, só se costura remendos, sem se ter uma noção mais ampla e global do que se tem que realmente fazer em relação à mobilidade da cidade. É dinheiro público mal gasto”, explicou o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento da Paraíba (IAB.pb), Fabiano Melo.
A saúde pública é outro problema grave da cidade, que piorou muito nos últimos quatro anos. Como denunciou a ex-presidente do Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa, Sônia Lacerda: “Faltam medicamentos nas centrais de atenção básica, os hospitais de emergência estão operando de forma precária e as ações especializadas em saúde bucal foram suspensas”.
Simultaneamente, a atual administração municipal investiu menos de 90% dos recursos enviados pelo Ministério da Saúde, em todos os anos, e cometeu casos de extrema negligência. Como quando abandonou à poeira e ao mofo, 40 máquinas de hemodiálise do Santa Isabel, que custaram mais de R$ 4 milhões aos cofres públicos.
Casarões abandonados deixam de integrar circuito turístico – A memória da Capital paraibana tão pouco vem sendo bem preservada. O Centro Histórico está abandonado. Sobrados desabando ou funcionando como cortiços. Na rua da Areia são poucos os casarões que ainda se salvam. Uma das duas únicas edificações de azulejos do complexo histórico está em ruínas. O convento de São Francisco está sendo subutilizado, precisa de mais investimentos.
“O centro é um lugar de várias praças, daria pra fazer um circuito turístico lindo, mas a maior parte delas está largada, sem uso ou descaracterizada de sua função. A praça Álvaro Machado, por exemplo, localizada de frente para um belíssimo pôr do sol e onde existem as ruínas do primeiro hotel da cidade, hoje é um posto de gasolina”, declarou a professora de Arquitetura e Urbanismo da UFPB, Jovanka Baracuhy.
A segurança pública é outro problema que enfrenta o centro histórico. Vários bares que lá funcionam fecharam numa sexta-feira, no ano passado, em protesto contra a violência no local, que tem afastado muita gente. O poder público municipal, nos últimos quatro anos, também pouco investiu em práticas culturais, na ocupação dos espaços públicos do centro.
Essa situação de abandono, felizmente, pode ter começado a mudar com a revitalização do Parque Solon de Lucena, que apesar das graves denúncias de superfaturamento e de ter ficado aquém do esperado, representou um grande ganho para a qualidade de vida dos moradores da capital. Lagoa e Bica são os únicos parques urbanos da cidade.
Ainda existem três outros projetos que, se saírem do papel, têm potencial de dar uma levantada no centro histórico: a transformação da área de preservação permanente do Sanhauá em parque; a revitalização dos casarões da ladeira da rua João Suassuna em moradouros; e a reurbanização do Porto do Capim. Todas essas intervenções estão com dinheiro alocado, mas ainda estão em fase de licenciamento ou de discussão do projeto.