Redes sociais e as mentiras ARQUITETÔNICAS
20 de fevereiro de 2017 |
As pessoas são livres para postarem o que desejarem em redes sociais, mas devem se responsabilizar pelos seus atos. Quando vejo em Facebook ou Instagram postagens de leigos (não arquitetos) oferecendo ou ilustrando seus “projetos arquitetônicos” me questiono se essas pessoas abrem o jogo para seus “clientes”. Vejamos.
Será se os NÃO ARQUITETOS dizem aos seus clientes que não assinarão um termo de responsabilidade por esse “projeto arquitetônico” e que se trata apenas de um DESENHO? Será se o NÃO ARQUITETO diz ao cliente que o mesmo não poderá acioná-lo na JUSTIÇA, caso não fique satisfeito com o “projeto”, pois o nome DELE não estará em uma Anotação de Responsabilidade Técnica? Será se esse cliente tem conhecimento que está contribuindo para o exercício ilegal da profissão de arquiteto e comprando um serviço que poderá muito provavelmente trazer prejuízos financeiro e de bem-estar? Será que os profissionais ligado aos conselhos de classe que ASSINAM (acobertamento) esses “projetos” estão cientes que em caso de judicialização de tal “projeto”, serão considerados RESPONSÁVEIS pelo “projeto arquitetônico”? Será que o cliente sabe que PODE e DEVE reclamar judicialmente seus direitos nos casos de não estarem satisfeitos com erros técnicos de projeto arquitetônico? Será que o cliente sabe que o metro quadrado construído em nossa região não sai por menos de R$ 1.000,00 para residências? Será que o cliente sabe que uma boa solução com 10,00 m² a menos o fará economizar R$ 10.000,00?
Os NÃO ARQUITETOS deveriam, em suas publicações com maquetes eletrônicas cheias de efeitos, dizer: “NÃO SOU ARQUITETO, mas esse “projeto” foi feito por mim, tem X m² e será assinado (responsabilidade) por Fulano, portador de Número tal”. Os NÃO ARQUITETOS deveriam postar seus trabalhos anteriores (“projetos”) – executados – e compará-los às suas maquetes eletrônicas e da mesma forma, já que acham que não estão fazendo nada de errado, postarem metragem quadrada das construções, pois os novos clientes deveriam conhecer seu Portfolio.
As pessoas são livres para fingir ser arquitetos e outras, igualmente, são livres para se sujeitar a esses “projetos”, na posição de cliente. Isso é o princípio da livre escolha. Mas existe um detalhe importante, vivemos em uma sociedade que bem ou mal vive sob a égide de leis, normas e regras e seus descumprimentos serão passíveis de penas.
O exercício ilegal da profissão de arquiteto e urbanista jamais será extinto integralmente, tenho consciência disso, mas não posso deixar de exercer meu direito cívico do protesto e indignação. Num país em que 85% das construções não são projetadas por arquitetos e é público e notório que encontramos facilmente erros e patologias construtivas dos mais absurdos, seja por ausência de boas soluções de iluminação e ventilação, soluções de telhados eficientes, erros grotescos de funcionalidade e quase sempre fazer com que o proprietário gaste além do previsto, está mais que na hora da propagação das boas práticas e enfim contribuir para que essa cultura diminua consideravelmente.
As faculdades de arquitetura e os órgãos ligados à classe devem envidar esforços para redução dessa prática. Tornar os alunos de arquitetura parceiros dessa ideia é essencial para que mecanismos sejam alavancados para minimizar os efeitos nocivos dessa prática ilegal e irresponsável entranhada na sociedade brasileira.
Silton Henrique é arquiteto e urbanista há 21 anos e conselheiro do CAU/PB desde a gestão fundadora do conselho. Atualmente, Silton é coordenador da Comissão de Ética e Disciplina do CAU/PB (2017).